segunda-feira, 25 de abril de 2011

Literatura - Introdução, Trovadorismo e Humanismo

INTRODUÇÃO

Periodização da Literatura em Portugal e no Brasil:

A história da literatura portuguesa, tal qual conhecemos hoje, tem início em meados do século XII, quando Portugal se constitui como um estado independente.




Os mais de oito séculos de produção literária portuguesa são divididos em três grandes eras:

ERA MEDIEVAL
ERA CLÁSSICA
ERA ROMÂNTICA OU MODERNA

Em função dos estilos individuais dos artistas (maneira particular de utilizar a língua), do contexto histórico e das tendências de cada período, estas eras literárias foram subdivididas em fases menores, chamadas Estilos de Época ou Escolas Literárias, conforme vemos no quadro abaixo:

PRODUÇÃO LITERÁRIA LUSO-BRASILEIRA: QUADRO CRONOLÓGICO





A história da literatura brasileira, como não podia deixar de ser, está intimamente ligada à história literária de Portugal e também dividi-se em eras histórico-literárias, tendo como marco de separação a independência da colônia:

ERA COLONIAL
ERA NACIONAL

Esta delimitação cronológica, recurso puramente didático, não deve ser entendida de forma rígida, como se as Escolas fossem compartimentos estanques presos a certas datas arbitrariamente estabelecidas. Ao contrário, um mesmo autor pode apresentar características de várias escolas, independentemente da época e, as datas representam apenas marcos históricos, isto porque, sempre há um período de transição entre a ascensão de um Estilo e o declínio de outro.

TROVADORISMO



O início das chamadas literaturas de línguas modernas ocorre com a produção dos poetas da Idade Média, conhecidos como trovadores. O termo trovador origina-se detrobadour, que significava “achar”, “encontrar”. Cabia ao poeta “encontrar” a música e adequá-la aos versos. Neste período as composições eram basicamente compostas para serem cantadas ao som de instrumentos como a lira, a cítara, harpa ou viola, daí serem chamadas de cantigas.

Os artistas medievais eram classificados em:

Trovador – geralmente nobre, possuidor de uma cultura erudita, não recebia por suas composições;
Jogral – compositor, saltimbanco ou ator que recebia por suas apresentações;
Segrel – fidalgo decaído que apresentava-se nas cortes, em troca de dinheiro, juntamente com seu jogral. Pode ser considerado um trovador profissional;
Menestrel – artista que servia a uma determinada corte;
Jogralesa ou soldadeira – moça que acompanhava os artistas dançando, cantando e tocando castanholas.

O primeiro texto literário português que se tem registro é a “Cantiga da Guarvaia” ou “Cantiga da Ribeirinha” (1189 ou 1198), cantiga de amor de autoria de Paio Soares de Taveirós.

I - CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL

O séculos XI e XII são marcados pelo feudalismo, no plano político-econômico e pelo espírito teocêntrico (deus como o centro de todas as coisas), no plano religioso. A sociedade medieval, composta basicamente pelo clero, nobreza e camponeses, estava estruturada numa relação de suserania e vassalagem, através da qual os vassalos (povo) serviam e obedeciam ao suserano (senhor feudal) em troca de proteção e assistência econômica. Tal estrutura era mantida graças ao teocentrismo, que difundia a idéia de destino, fazendo com que o povo aceitasse sua posição subalterna sem contestação, uma vez que esta era ordem divina.

Este dois traços histórico-culturais irão influenciar toda a produção literária trovadoresca, não só na poesia mas também na prosa.

II- PRODUÇÃO LITERÁRIA

2.1 – CANTIGAS
O que conhecemos da poesia trovadoresca, anterior ao aparecimento da escrita, está contido em obras conhecidas como cancioneiros, manuscritos antigos encontrados a partir do final do século XVIII. Os três mais importantes são:

Cancioneiro da Ajuda ou do Real Colégio dos Nobres – reúne 310 composições, das quais 304 são cantigas de amor , foi organizado por D. Dinis e é o mais antigo de todos. Encontra-se na Biblioteca da Ajuda, em Portugal.
Cancioneiro da Vaticana – reúne 1205 poesias, de autoria de 163 trovadores. Conserva-se ainda hoje na Biblioteca do Vaticano, em Roma.
Cancioneiro da Biblioteca Nacional – também conhecido por Cancioneiro de Colocci-Brancuti, em homenagem a um de seus antigos possuidores. É o mais completo de todos, contendo 1647 cantigas de todos os gêneros. Encontra-se na Biblioteca Nacional de Lisboa, em Portugal.

Há ainda, segundo alguns estudiosos, as Cantigas de Santa Maria, um cancioneiro de poesias religiosas composto por 426 produções acompanhadas das respectivas músicas.

Toda esta produção poética dividi-se em:



Nas Cantigas de Amor, de origem provençal (Provença região sul da França), o trovador, posicionando-se num plano inferior – como um vassalo, canta o sofrimento pelo amor não correspondido e as qualidades de uma mulher idealizada e inatingível, a quem chama de

“minha senhor”.
“Senhor fremosa, pois me non queredes
creer a coita en que me tem amor,
por meu mal é que tan bem parecedes
por meu mal vos filhei por senhor
e por meu mal tan muito bem oí
dizer de vós, por meu mal vos vi
pois meu mal é quanto bem vós havedes.”
(Martim Soares, século XIII)

Originárias da Península Ibérica, as Cantigas de Amigo apresentam um eu-lírico feminino, embora fossem produzidas por homens. Nelas a mulher canta a ausência do “amigo”que está afastado, geralmente a serviço do rei ou em guerras. Ao contrário das primeiras, que refletiam a corte, as Cantigas de Amigo descrevem um ambiente pastoril, a moça ao cantar seus sentimentos dialoga com a mãe, a amiga e elementos da natureza.

“Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
e ai deus, se verrá cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
e ai Deus, se verrá cedo!
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro!
e ai Deus, se verrá cedo!...”
( Martim Codax, século XIII)

Produzidas com o objetivo de satirizar as pessoas e os costumes da época, as Cantigas de Escárnio continham uma sátira indireta, marcada por ambigüidades e sutilezas, dificultando a identificação da pessoa atacada.

Ua dona, nom digu’eu qual,
non agoirou ogano mal
polas oitavas de Natal:
ia por as missa oir
e ouv’un corvo carnaçal,
e non quis da casa sair...”
(Joan Airas de santiago, século XIII)

Já as Cantigas de Maldizer continham ataques diretos, sem a preocupação de ocultar a identidade da pessoa satirizada, apresentando muitas vezes expressões de baixo nível e obscenidades.

“Ai, don fea! Fostes-vos queixar
porque vos nunca louv’en meu trobar;
mais ora quero fazer un cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandía...”
(Joan Garcia de Guilhade, século XIII)

Quadros comparativos entre as cantigas:





2.2 – PROSA
A prosa medieval, posterior à poesia, é representada basicamente pelas novelas de cavalaria, narrativas de cunho cavaleiresco e religioso que contavam as aventuras de grandes reis e seus cavaleiros. Destacam-se entre elas a História de Merlim, José de Arimatéia e a Demanda do Santo Graal. Havia também outros textos em prosa, assim divididos:

Hagiografias – biografia de santos
Livros de Linhagens ou Nobiliários – relatos genealógicos de famílias nobres
Cronicões – livros de crônicas

Costuma-se afirmar, didaticamente, que o Trovadorismo termina com a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de cronista-mor da Torre do Tombo, em 1418, marcando o início do Humanismo.


Nenhum comentário:

By Aurizete Calheira